Todos os anos, no dia 24 de Dezembro, o ritual era o mesmo. De manhã, Mãe, Tia e Avó, iniciavam as tarefas "gastronómicas" que iam desde preparar as couves, batatas e o bacalhau para o jantar da consoada, preparar o cabrito para a ceia, a massa para as filhoses e azevias (cujo recheio tinha sido feito na véspera pela Avó, que contava com a ajuda do Avô que previamente, e com a sua imensa paciência, retirara a pele ao grão demolhado). Não faltava o "Bolo Rei" da Tia, bem como o pão-de-ló comprado numa das melhores pastelarias do Porto (este com a recomendação que só se podia "partir" com a mão e nunca com uma faca de metal...).
Durante o dia, a Mãe decorava a mesa, colocando as tacinhas com as frutas cristalizadas e os frutos secos...e que sucessivamente eram reabastecidas, pois somos como que uma família de esquilos, sempre a mordiscar.
Entretando, o Avô ia acalmando o nervosismo da neta mais nova, que constantemente o abordava, na esperança (muitas vezes consumada) de saber que novidades a esperava à meia noite.
Depois do jantar em família, a Mãe, Tia e Avó, passavam novamente para a cozinha, onde entre muitas tarefas de lavar e arrumar, seguiam-se novas frituras de filhoses e azevias para a ceia.
Na sala, Pai, Tio e Avô conversavam, enquanto as netas, assistiam ao filme "Música no Coração" (substituído hoje em dia pelo "Sozinho em Casa"), à espera que "os minutos" passassem.
Entre os momentos em que se olhava para a televisão e aqueles em que se fechava a pestana, lá chegava a hora, perto da meia-noite, em que o Avó levava as netas para fora da sala e as entretinha até serem chamadas pelo toque da sineta (que, na sua inocência, acreditavam ser o anunciar da saída do Pai Natal de casa, após ter deixado as prendas junto ao sapatinho).
Na realidade, finalizada a grande azáfama e correria com sacos de prendas estrategicamente escondidos pela casa, e após distribuição das prendas nos sapatinhos respectivos, o Pai tocava a sineta (em forma de anjinho), e as netas "deslizavam" corredor fora até junto das prendas.
Entre o desembrulhar as prendas e os risos de alegria por se ter recebido o que se tinha pedido na carta ao Pai Natal, a boa disposição reinava em cada canto da sala.
Finda a abertura dos presentes, os mais velhos sentavam-se novamente à mesa, enquanto as netas se deliciavam com as novidades do "sapatinho".
Enfim, tempos que passaram e que fazem parte da minha memória saudosista.
A tradição mantém-se na família (...) com algumas mudanças de "actores"...os que eram crianças, são agora Mãe e Tia, os que eram Mãe e Pai, são agora ´também Avó e Avô, o que era Tio é duplamente Tio e a Avó é Bisa.
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